I LOVE Brides: Reflexão sobre 2020 José Maia: Costumo dizer que o ano de 2020 começou por passar do grande ano para a grande desilusão. Era um ano em que todos tínhamos elevadas expectativas, no que diz respeito ao sucesso das nossas empresas, perspetivando-se um equilíbrio geral muito saudável em todo o sistema económico. A partir de Março, tudo mudou. Tivemos que enfrentar desafios que nunca sequer tínhamos equacionado, e adaptarmo-nos a uma realidade que ia sendo descoberta todos os dias, com uma enorme incerteza no futuro, procurando balancear o melhor possível o interesse dos nossos clientes, colaboradores, fornecedores e parceiros. Foi, sem dúvida, um trabalho esgotante. No entanto, o ano de 2020 acaba com excelentes notícias para todos. Temos agora muito conhecimento que nos permite fazer face a este problema de forma assertiva e certeira, controlando surtos e transmissões virais com recurso a mecanismos que antes não dispúnhamos, como os testes rápidos de antigénio, e também outras medidas de controlo farmacológico, que possibilitam um novo normal com muito menor intercorrência para a vida quotidiana. Temos, igualmente, a certeza da realização de um processo de vacinação eficaz que promete trazer a vida que tivemos até agora e pela qual tanto ansiamos em 2020.
ILB: Quais os números relativos à queda nesta área? Qual o feedback do setor dos casamentos? JM: Os números que se conhecem são, sem dúvida, preocupantes. Estima-se que as quebras de faturação das empresas diretamente ligadas e dependentes desta atividade estejam na ordem dos 90%, e parecem-me ser números muito realistas. Isto porque é preciso ter em conta que, apesar de ter havido períodos, durante o verão, de viabilização parcial da nossa atividade, a economia como um todo funciona com base num ingrediente fundamental: a confiança. No setor dos casamentos, este facto é ainda mais preponderante, dado que é uma atividade na qual os clientes depositam extrema expectativa — estamos a falar de um dos dias mais importantes na vida das pessoas e, por isso, é normal que haja uma ansiedade suplementar, quando se compara com outras atividades do dia-a-dia. Para além disso, do lado dos convidados dos noivos, havia também o receio instalado de forma generalizada, no que à possível infeção diz respeito e, por isso, mesmo os casamentos que acabaram por acontecer, tiveram dimensões muito menores do que se pode considerar normal, o que teve um enorme impacto nas receitas de todo o setor, como se pode facilmente compreender.
ILB: Nesta fase, que medidas considera prioritárias para as empresas deste setor? JM: Conforme já tive a oportunidade de referir, este é um setor que vive de expectativa e confiança. Por isso, a primeira medida a tomar é passar uma mensagem de confiança ao público e todos os outros stakeholders do setor. Sim, é cada vez mais uma realidade a possibilidade de realizar casamentos em segurança. Seria uma atitude absolutamente irresponsável desconsiderar tudo o que tem aparecido de novo para a viabilização desta nossa atividade e de tantas outras fundamentais para o normal funcionamento da sociedade. Tal como já referi, hoje sabemos muito mais desta doença do que sabíamos em Março e Abril, e temos muito mais e melhores ferramentas para a combater. Falei já nos testes rápidos de antigénio, hoje feitos através de zaragatoa nasofaríngea, mas há que considerar também o surgimento de novas formas de asseverar a ausência de risco de transmissão em convívios interpessoais, como sejam os testes rápidos de antigénio através de saliva, com resultados promissores em testes clínicos. Existem ainda os testes rápidos de antigénio através da respiração e os self test, já aprovados para utilização caseira nos Estados Unidos; sem nunca perder de fundo o plano subjacente de vacinação para a COVID-19, que nos dará a “merecida tranquilidade” a longo prazo. Resumindo, em primeiro lugar é preciso passar uma mensagem de confiança para a retoma da atividade em segurança; e, em segundo lugar, é preciso consubstanciá-la e operacionalizá-la com base em inovadores e seguros planos de contingência, como de resto já está a ser feito noutros países, de onde destaco o caso do Reino Unido, que já aprovou a utilização de testes rápidos de antigénio para a realização de festivais de música.
ILB: Quais são as expectativas para o primeiro semestre de 2021? JM: Quando falamos de expectativas, e ainda mais a nível empresarial, devemos ter sempre a preocupação de ser realistas. E, por essa razão, quando me coloca essa questão, eu tenho de ser extremamente cauteloso na resposta que profiro. Diria que é seguro pensar que algures no início do primeiro semestre, depois de iniciado o programa de vacinação em Portugal, será aproveitado todo o know how, já adquirido e que já referi, para que possa ser criado um “novo normal” que permita a retoma rápida e segura da atividade económica, durante o primeiro trimestre do ano, e que reverta todo o sofrimento pelo qual todos nós passamos no pesado ano de 2020.
Até já, 2021.
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