Marina e Ulay – dois nomes que podiam ser apenas dois nomes, mas que são muito mais do que isso.
Estes dois nomes, que à primeira vista parecem não ter nada em comum (a não ser a partilha da letra “a”), são, na verdade, uma Obra de Arte (ou várias) que respira e toca e sente.
Marina Abramović conheceu Frank Uwe Laysiepen em 1976.
A artista sérvia mudou-lhe o nome e criou Ulay, transformando o artista alemão (conhecido pela sua arte Polaroid) no seu parceiro amoroso e artístico.
As performances deste casal mudaram, para sempre, a Arte e, principalmente a forma de ver a Arte.
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Os “Relation Works” de Marina e Ulay exploraram o ego e a identidade artística dos dois intérpretes.
Os artistas fundiram-se num “corpo com duas cabeças”, de modo a explorarem, ao máximo, a Arte Perfomativa e a sua relação enquanto casal e humanos. Os limites físicos foram testados, assim como as características masculinas e femininas de cada indivíduo, construíndo um ser hermafrodíaco que fez surgir a figura Marina/ Ulay.
De forma a alimentarem a Arte, o casal desenvolveu uma relação de confiança total, criando algumas das performances mais importantes do século XX.
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Breathing in/ Breathing out : uma performance em que os dois artistas, unidos pela boca, “roubam” o ar exalado pelo outro, até o oxigénio se extinguir; dezassete minutos depois da performance ter começado, os intérpretes caem inconscientes, devido ao excesso de dióxido de carbono nos pulmões. |
AAA-AAA : uma performance em que os artistas estão completamente nus e ocupam uma entrada/ saída de uma sala, obrigando o público a colocar-se entre eles (para poder passar) e, consequentemente, a encarar um dos artistas. |
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Rest Energy : uma performance em que o casal se encontra em lados opostos de um arco e flecha; a flecha está apontada para Marina, numa clara alusão ao poder do homem sobre a mulher, mas é o elemento feminino quem segura o cabo do arco (dando a ideia de que é ela quem realmente controla a decisão do elemento masculino). |
Juntos desde o ano em que se conheceram, a relação de doze anos acabou por se detriorar, levando Marina e Ulay a embarcarem numa viagem espiritual que os pudesse “curar” enquanto casal.
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A peça “Lovers” é o culminar dessa viagem.Nesta performance, os artistas percorrem, de forma solitária (apenas acompanhados, cada um, por um tradutor), a Grande Muralha da China. O casal inicia o percurso em lados opostos da muralha, terminando, três meses depois, no meio da construção, onde se despedem um do outro, acabando a relação. |
Apesar do desfecho dramático, a verdade é que esta performance deveria de ter terminado de uma forma bastante diferente.
Segundo Marina Abramović, “Lovers” foi um projeto planeado há bastante tempo e que terminaria, não com um adeus, mas com um casamento.
De acordo com a artista, Ulay não realizou totalmente a performance, visto que decidiu interromper a viagem e esperar por ela (durante três dias), no local onde cessou a caminhada.
Para além de não ter realizado em pleno a performance, Ulay recebeu Marina com uma notícia inesperada.
Durante mais de vinte anos, Marina e Ulay não se voltaram a ver ou a comunicar. No entanto, em 2010, a arte voltou a juntá-los.
O Museum of Modern Art (MOMA), em Nova York, foi o palco do encontro inesperado.
No momento em que Marina Abramović realizava a sua performance (uma conversa silenciosa com o público), Ulay sentou-se na cadeira vaga, à sua frente, e o casal partilhou um momento não-verbal, repleto de emoções e memórias.
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A história de Marina e Ulay ultrapassou o registo amoroso e entrou no domínio da beleza criada a partir do humano – a Arte – uma beleza que emociona, mas que, também, questiona e magoa, devido à sua natureza terrena, falível e, por vezes, cruel.
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Frank Uwe Laysiepen morreu esta segunda-feira (dia 2 de março de 2020), aos 76 anos de idade.
Marina e Ulay não encontraram o “final feliz”. Preferiram encontrar-se um ao outro para, talvez, se poderem separar.
| Redação: Bárbara Barbosa | Fotografia: Reprodução Internet |